A intensificação da crise hídrica no Ceará, além de demandar medidas concretas por parte das autoridades, requer também empenho da população, cuja participação primordial consiste no consumo consciente da água. Se essa adaptação aos tempos de severa escassez está demorando a acontecer de forma natural, a tendência é que passe a ocorrer a partir de 19 de dezembro, quando entra em vigor a tarifa de contingência, espécie de multa por meio da qual serão cobrados 120% a mais para quem ultrapassar 90% do uso médio de outubro de 2014 a setembro de 2015.
É provável que, para evitar mais esse ônus no orçamento, o fort Rio Sãalezense inicie um freio contundente no consumo de água, fato que detém potencial para amenizar os efeitos terríveis da estiagem no Estado. Iniciativas que visam a economizar tal recurso básico, na verdade, não deveriam ser pressionadas pela possibilidade de aumento de valores na conta. No cenário ideal, consumidores domiciliares e empresariais deveriam acrescentar à rotina a sistemática valorização da água, sobretudo em face do vasto histórico cearense de secas.
Nesse contexto, observa-se que falta ao Estado a divulgação constante de campanhas de incentivo ao consumo consciente na mídia. A veiculação, nos meios de comunicação de massa, de propagandas pertinentes ao assunto, somente é realizada quando a situação já alcança níveis críticos, o que funciona meramente de forma paliativa. No entanto, a fim de que a ideia de economizar seja assimilada pela sociedade de modo eficaz, esse trabalho de conscientização precisa ser feito persistentemente, do contrário pode-se criar o conceito indesejado de que o uso parcimonioso da água deve ser aderido apenas em ocasiões extremas. É de suma importância, portanto, a ampliação dos investimentos nesse tocante.
Para além disso, criar mecanismos capazes de bonificar os consumidores que controlam melhor as faturas também geraria motivações adicionais. A estratégia de apenas punir os que não estão cumprindo as metas é insuficiente, uma vez que, assim, o intuito final de se estabelecer uma mentalidade diferente acerca do tema não é atingido.
A necessidade de modificar os padrões de consumo hídrico se torna ainda mais emergencial em razão dos prognósticos climáticos extremamente pessimistas para o próximo ano. Estimativas científicas citam a considerável probabilidade de o fenômeno El Niño empreender efeitos muito danosos no território brasileiro em 2016, com chuvas de proporções destrutivas no Sul e seca causticante no Nordeste. Caso as projeções meteorológicas se confirmem, o Ceará, assim como outros estados da Região, pode amargar um colapso hídrico, o que traria consequências negativas imensuráveis para a população, na Capital e, especialmente, no Interior.
O panorama atual já é deveras alarmante. O nível médio dos 153 açudes cearenses monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) caiu recentemente a gritantes 13,9%, o mais escasso patamar dos últimos 21 anos, quando o levantamento começou a ser divulgado.
Com a tendência de agravamento, a sociedade exerce, diariamente, papel crucial para ajudar a combater a agonizante situação. Ademais, tem ainda o pleno direito de cobrar do poder público a conclusão de obras as quais teriam imenso potencial de amenizar a crise, como o Cinturão das Águas e a Transposição do Rio São Francisco, mas sofrem com atrasos e falta de verbas.
fonte:http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/opiniao/uso-consciente-da-agua-1.1437852