Com apoio da Ematerce e recursos do Pronaf, produtores driblam com êxito o drama da falta d´água no Semiárido

Tabuleiro do Norte. Em quatro anos de seca, os agricultores do Semiárido cearenses têm sido castigados pela falta de água para plantio e para manter o rebanho. Porém, uma iniciativa da Empresa de Assistência Técnica de Extensão Rural do Ceará (Ematerce) em execução neste município vem mudando essa realidade. Por meio da perfuração de poços profundos, com recursos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), produtores têm conseguido gerar renda em suas localidades.

A vida do agricultor Jonas Viana Falcão, da localidade de Sítio Caraúbas, começou a mudar em janeiro de 2013, quando a seca já havia se anunciado no ano anterior. Na terra seca de chão batido em que ele vive com a esposa e os dois filhos, mal se tinha o que plantar.

O inverno era quem trazia a oportunidade de contar com milho, o feijão e o capim para o gado. Mas, ao fim de 2012, havia pouca água para beber e essa fornecida pelo carro-pipa. As cabeças de gado que tinha eram alimentadas com macambira e cardeiro, só para não morrer de fome. Ele conta que a vida se tornou mais difícil.
“Esse poço aqui foi perfurado em janeiro de 2013 e, a partir daí, a coisa foi melhorando. Hoje, planto, tenho meu gado, minha criação, não falta água nem para a gente beber porque a água daqui é boa. Graças a Deus temos condições de trabalhar e viver”, conta satisfeito.

Auxílio

Essa oportunidade que salvou a produção de Jonas chegou também para 170 pequenos agricultores de Tabuleiro do Norte, por iniciativa do Escritório da Ematerce local. Segundo explicou o engenheiro agrônomo Eliaci Pinheiro, da Ematerce de Tabuleiro, o processo todo começou com a possibilidade de agricultores terem acesso ao crédito do Pronaf para perfuração de poços e, em seguida, tivessem orientação de como instalar os sistemas de irrigação mais eficientes.

“Primeiramente, conversamos com os bancos para saber da viabilidade de liberação desse crédito, depois levamos a proposta para os agricultores. Os que se enquadraram no perfil receberam o recurso e nós acompanhamos todas as etapas, desde a perfuração, a instalação do sistema e a assistência técnica quanto à produção e ao bom uso da água”, contou.

Falcão conta que conseguiu empréstimo de R$ 14 mil, o qual usou para perfurar o poço. Hoje, ele cultiva na sua área de 4,2 hectares melancia e forragem. O agricultor também mantém um pequeno rebanho de onde é vendido o leite e é produzido o queijo; além dos ovinos, que recebem boa alimentação. Falcão tem dois anos de carência para iniciar o pagamento do empréstimo, em parcelas anuais divididas em oito anos. “Isso aqui foi o que salvou a gente; hoje, temos o suficiente pra continuar”, ressaltou o agricultor.

Custo

Esses poços profundos em Tabuleiro do Norte possuem uma média de vazão de 12.000 litros/hora. De acordo com Pinheiro, o custo médio de perfuração de um poço profundo gira em torno de R$ 35 mil, incluindo neste a instalação de 0,5 hectares de irrigação por gotejamento.

“Não é necessário apenas ter água, mas fazer o bom uso dela. O sistema mais utilizado por esses agricultores é o gotejamento, que consegue economizar 90% da água. Além desse, também tem a microaspersão, que gera uma economia de água em torno de 75%”, destacou.

No Assentamento Donato, a realidade hoje é bem diferente da vivida em janeiro de 2013, quando os agricultores tinham dificuldades de acesso ao crédito para salvar o rebanho. O agricultor Antônio da Silva Moura, que também é presidente da Associação dos Assentados, conta que o cenário na época era de perdas. “Muitos agricultores viam seu gado morrer sem poder fazer nada. Não tinha água, não tinha pasto. O preço da silagem era alto e a fila para conseguir era grande, além do frete. Teve gente que foi embora por não ter mais condições de ficar aqui”, relata.

Há mais ou menos seis meses, os poços começaram a ser perfurados e hoje estão em 16 propriedades. No assentamento, vivem 60 famílias e aqueles agricultores que conseguiram o financiamento hoje plantam forragem, o que acaba barateando os custos para outros agricultores que vivem no local.

A expectativa, de acordo com Moura, é que outros assentados também consigam o financiamento, mas é preciso estar adimplente com os bancos ou, pelo menos, que busquem renegociar as dívidas.

Oportunidade

Já na propriedade de Edson Ferreira Maia, na localidade de Curral Velho, a oportunidade permitiu que ele ampliasse a área e perfurasse outro poço, dessa vez com recurso próprio. “Antes eu plantava de sequeiro, aproveitava o inverno. Aí, em 2012, o pessoal da Ematerce conversou com a gente, falou dessa possibilidade… Eu tentei, mesmo não acreditando muito, mas graças a Deus que deu certo”, comemora.

Hoje, Edson possui uma área irrigável de banana que espera ampliar com a instalação do segundo poço, já perfurado, aumentando, assim, a produção e os negócios.
Desde que o projeto foi iniciado, em 2013, os custos de perfuração foram barateados, segundo acrescentou Pinheiro. No início, as perfuratrizes eram trazidas de outros Estados, inclusive da Bahia, tudo para encontrar um melhor preço.

Ele conta que atualmente há uma perfuratriz no município, que foi desenvolvida e construída por Antônio Oliveira Santos, o Neguinho, como é conhecido, natural de Tabuleiro do Norte. A média de profundidade dos poços é de 80 metros.

A principal fonte de água captada pelos poços profundos vem do aquífero Arenito-Açu, que situa-se nas regiões do Rio Grande do Norte e do Ceará, passando pelo Médio Jaguaribe, até o Município de Aracati.

Enquete

O que mudou com os novos poços?

“Consegui plantar durante todo o ano e, logo quando for instalado o segundo poço feito com recursos próprios, vou poder ampliar a área, garantindo maior produção e obtendo melhor rendimento”

Edson Ferreira
Agricultor

“O grande problema dessa seca é que não há condições de o agricultor permanecer na sua terra sem água com todas as dificuldades enfrentadas. Hoje, nós conseguimos plantar e continuar a viver aqui”

Antônio Silva Moura
Agricultor

“O poço assegura água, tanto pro sustento dos bichos, como para plantar. Ela é de boa qualidade e também usamos para beber. Felizmente, temos contado com essa boa alternativa de recurso hídrico”

Jonas Falcão
Agricultor

fonte:http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/regional/agricultores-vencem-desafios-1.1443411

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