Depois de chegar ao máximo, próximo aos 3°, o fenômeno deve passar a 1,5° ou 2,0° e ir se dissipando
As chuvas dos primeiros dias de 2016 trouxeram esperança para o povo cearense. Mas, caso as previsões se confirmem, o Estado deverá enfrentar o quinto ano consecutivo de seca, o que poderá agravar ainda mais a situação das reservas hídricas, já crítica. De acordo com dados do Portal Hidrológico da Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh), o volume de armazenamento dos 153 açudes cearenses é de 12,1%. A boa notícia é que o El Niño começa a perder a sua intensidade. Ainda assim, deverá interferir negativamente nas chuvas do Ceará.
Depois de passar pelo seu período máximo, próximo aos 3°, o fenômeno começa a perder força, explica o meteorologista da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Raul Fritz. Porém a previsão pelos modelos climáticos internacionais é de que, em abril e maio, ele ainda esteja forte, podendo estar de 1,5º a 2,0º. Caso isso ocorra, acrescenta que vai exercer influência negativa nas chuvas do Ceará. “Apesar de o fenômeno estar se dissipando, como é um processo gradual, deve influenciar negativamente nos meses mais chuvosos”, frisa.
Média
Até existe a possibilidade de ele perder força rapidamente, dando tempo de chover na média, esclarece Fritz, mas ela é muito remota. Já aconteceram casos no passado. A última vez que sucedeu foi em 1973. “Na meteorologia, tudo é possível. Entretanto, no momento, os modelos indicam um decréscimo gradual da intensidade do fenômeno. Não significa ausência total de chuva. Vai chover, inclusive com modelos de precipitações intensas, mas os totais acumulados mensais e trimestrais tendem a ficar abaixo da média”, ressalta.
Outro agravante que cita é a má distribuição das chuvas no Estado. Às vezes, diz, a variação é tão grande que dentro de um mesmo município é possível perceber. “Um distrito chove mais que o outro, isso é muito comum no Ceará. As chuvas estão localizadas”, afirma. A esperança, segundo o especialista, é a Zona de Convergência Intertropical – fenômeno que tende a generalizar mais as chuvas.
Outro evento que interfere fortemente na quadra chuvosa cearense são as condições da temperatura da superfície do oceano Atlântico. São elas, conforme o meteorologista, que regulam a atuação da Zona de Convergência do Oceano Atlântico.
Pré-estação
Neste período do ano, de pré-estação chuvosa, operam sistemas meteorológicos que não têm relação direta com a chuva, que se inicia em meados de fevereiro. “São sistemas diferentes”, explica Fritz. Em janeiro, as precipitações são provocadas por Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis e Cavados de Alto Nível.
“São sistemas diferentes do principal e praticamente único que atua de fevereiro a março, que é a Zona de Convergência Intertropical. Ela tende a trazer chuvas mais regulares, principalmente nos meses de março, abril e, muitas vezes, também em maio. Porém, com o El Niño nessa intensidade, certamente deverá prejudicar as chuvas deste período”, observa o especialista.
Calor
Queixa constante em praticamente toda roda de conversa, o forte calor dos últimos dias tem deixado o cearense mal humorado. Nestes dias iniciais do ano, a temperatura, de acordo com a Funceme, chegou a marcar 33,3º, considerada alta. Com a redução dos ventos em Fortaleza e a umidade do ar, a sensação de calor aumenta, tornando o clima bastante desagradável.
O meteorologista da Fundação, Raul Fritz, revela que o fenômeno El Niño também contribui para elevação das temperaturas. “Contribuiu em 2015 e continua nesse período”, afirma. A tendência, complementa ele, é de permanecer até que as chuvas cheguem de forma regular, amenizando o forte calor. Até que isso ocorra, o especialista adverte que calor deve continuar.
A temperatura máxima esperada para esse período é de 33,5º. “Isso na sombra, não no sol”, salienta Fritz. Além disso, no caso de Fortaleza, tem ainda a barreira de prédios na orla, que bloqueiam a entrada dos ventos. “Às vezes formam corredores nos quais os ventos podem passar, mas, geralmente, eles são bloqueados”, destaca.
No próximo dia 20, a Funceme vai anunciar o primeiro prognóstico deste ano, com previsão para os meses de fevereiro, março e abril, contemplando os principais meses da quadra chuvosa. Para hoje, conforme o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a probabilidade de chuva na Capital é de apenas 7% e, para quinta-feira (7), de 80%.
Saiba mais
El Niño
É um fenômeno oceânico caracterizado pelo aquecimento anormal das águas do Pacífico equatorial, próximo à costa da América do Sul. Essa condição, em muitos casos, contribui para a redução das chuvas no setor norte do Nordeste brasileiro, incluindo o Estado do Ceará
La Niña
É o oposto do El Niño, ou seja, um resfriamento anormal das águas do oceano Pacífico equatorial, próximo à costa da América do Sul. Normalmente, a La Niña não prejudica as chuvas do Ceará
Zona de Convergência Intertropical (ZCIT)
É o sistema meteorológico mais importante na determinação de quão abundante ou deficiente serão as chuvas no setor norte do Nordeste do Brasil
A ZCIT é uma banda de nuvens que circunda a faixa equatorial do globo terrestre. Pode-se dizer que a convergência dos ventos faz com que o ar quente e úmido ascenda, carregando umidade do oceano para os altos níveis da atmosfera ocorrendo a formação das nuvens
Vórtice Ciclônico de Ar Superior (VCAS)
Os VCAS que atingem a região Nordeste do Brasil formam-se no Oceano Atlântico entre outubro e março e sua trajetória normalmente é de leste para oeste, com maior frequência entre os meses de janeiro e fevereiro; são um conjunto de nuvens
fonte:http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/cidade/el-nino-perde-intensidade-mas-ainda-interfere-nas-chuvas-1.1467443