Quixadá. Para muitos moradores da “Terra dos Monólitos”, como Quixadá é conhecida pela acentuada quantidade de rochas maciças que circundam a cidade, essas formações naturais são o principal motivo da escassez de chuvas na região. Acabam barrando as nuvens.
> Chove em 60 municípios do Ceará
Outros atribuem o fenômeno a uma maldição indígena, quando obrigada pelos exploradores a abandonar as locas de pedra onde moravam levaram as nuvens e também a água dos rios. Desde então, quando começa a chover na cidade, praticamente todo o Estado já foi banhado. As precipitações registradas neste início de ano parecem confirmar a maldição.
Os dados da Funceme confirmam o baixo índice pluviométrico no Sertão Central. Desde o primeiro dia do ano quando o órgão meteorológico começou a registrar as chuvas do dia, os municípios da região vêm registrando baixa ou nenhuma precipitação. Por ironia, noutra região, tão seca quanto, os Inhamuns, tem chovido bem, inclusive ontem, quando Saboeiro registrou 125mm.
Explicação
Segundo o meteorologista Davi Ferran, da Funceme, os baixos índices pluviométricos no Centro do Estado do Ceará não estão associados a maldições e nem aos monólitos, mas a formação geográfica é um fator importante. Justamente pelos monólitos não terem elevação superior a 300 metros é mais difícil a formação das chuvas. Para elas surgirem, há necessidade do ar quente atingir a altura dos 4Km. No Cariri, na Ibiapaba e outras regiões com formações montanhosas, a serras funcionam como uma rampa natural, elevando as correntes de ar.
O especialista resume: para chover, o ar tem que subir. No Cariri e nos maciços, como da Ibiapaba e de Baturité, esse fenômeno é conhecido como efeito orográfico.
No litoral o sistema atuante é outro. A brisa marítima é que provoca a elevação do ar. Isso ocorre quando a água do oceano aquece mais. Mesmo assim, como o Estado do Ceará está situado no Semiárido, que se estende por praticamente todo o Nordeste, a incidência de chuvas é bem menor em relação às outras regiões do País.
Desde o dia 4, a Funceme passou a registrar chuvas mais acentuadas nas outras regiões do Estado. Ontem, por exemplo, choveu em sete municípios da região dos Inhamuns, todos com registros acima dos 40mm.
Sobre os Inhamuns, em suas considerações técnicas, outro meteorologista da Funceme, Raul Fritz, explica que a Chapada do Araripe é um dos fatores naturais para a formação das chuvas, por meio do efeito orográfico, mas, nos últimos dias, o fenômeno está associado a uma frente fria instável, com origem no oeste do Piauí.
É o mesmo Vórtice Ciclônico atuante em todo o Estado, que chega até Pernambuco. Como é circular, atua por várias frentes. “Ainda estamos estudando este fenômeno, para definir a causa mais provável da concentração das chuvas nessa região”, completou o pesquisador.
Por esses motivos o dito popular “Aqui, chove, mas não molha” tem sido cada vez mais citado pelos moradores da Terra dos Monólitos.
fonte: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/regional/sertao-central-vive-outra-situacao-1.1473175