Para conviver em qualquer ambiente, é fundamental conhecer suas características. Fisicamente, é a semiaridez que singulariza o Ceará. Pela última delimitação oficial, o Estado tem 85,47% do seu território no semiárido, onde, tradicionalmente, o clima tem sido caracterizado pela insuficiência de precipitações, temperaturas elevadas e fortes taxas de evaporação. As precipitações são caracterizadas por uma evidente irregularidade temporal e espacial. Isso se traduz no fato de que, ao longo dos anos, as chuvas apresentam excesso ou escassez, antecipação ou retardamento.

Sob o ponto de vista do balanço hídrico, no semiárido são registrados vários meses com deficiências hídricas quanto à quantidade de água no solo disponível para as plantas. A diversidade dos espaços, chamados Domínios Naturais, é outra característica importante. São pelo menos cinco subcompartimentações que devem ser consideradas quando o objetivo é identificar e promover alternativas econômicas de convivência com o semiárido e redução dos efeitos do fenômeno das estiagens.

Alternativas têm sido implementadas neste sentido, e uma série de tecnologias para o enfrentamento da seca e redução da pobreza tem ajudado a manter o homem no campo. A preocupação com a vulnerabilidade do ambiente frente às mudanças climáticas e a necessidade de uma exploração sustentável dos recursos naturais tem incentivado a multiplicação de ações que dê condições de sobrevivência e crie uma capacidade adaptativa da população mais vulnerável.

Temos como exemplo o Prodham, Projeto de Desenvolvimento Hidroambiental, executado pela Secretaria dos Recursos Hídricos e concluído em 2010, que se constituiu como um dos projetos-piloto na busca de formas de promoção da sustentabilidade dos recursos hídricos e das populações rurais. As ações foram voltadas para a redução dos processos de erosão, construção de dispositivos de acumulação natural de umidade e sedimentos e de produção/autorreprodução de nutrientes, permitindo a preparação das microbacias e respectivos biomas e sistemas de produção para resistir aos longos períodos de estiagem. Dentre as características mais importantes do projeto, ressalta-se a sua proposta de inovação tecnológica no domínio hidroambiental e produtivo.

Outra experiência que merece destaque é a recuperação de uma área degradada em processo de desertificação na sub-bacia hidrográfica do riacho do Brum no município de Jaguaribe-CE, em execução pela Funceme por meio de convênio com o Fundo Nacional de Mudanças do Clima do MMA. O local apresenta degradação quase irreversível da cobertura vegetal, erosão dos solos, assoreamento, baixa capacidade produtiva das terras, além do empobrecimento generalizado da biodiversidade.

As ações estão sendo focadas no manejo e conservação do solo, da vegetação e da água e da aplicação da técnica de transferência da serrapilheira. Os resultados preliminares já mostram a eficiência do trabalho, que, apesar das poucas chuvas ocorridas na região após a implementação do projeto, já há sinais evidentes de recuperação. A fase agora é de monitoramento e validação, para que as técnicas possam ser replicadas para outras áreas degradadas do semiárido.

Margareth Silvia Benício de Carvalho

margareth@funceme.br

Supervisora do Núcleo de Recursos Hídricos e Meio Ambiente da Funceme

Sônia Barreto Perdigão

sonia@funceme.br

Engenheira agrônoma

fonte:http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2015/11/25/noticiasjornalopiniao,3539362/convivencia-com-o-semiarido.shtml

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