Convidado pelo presidente da Fiec, Beto Studart, participei de um grupo de empresários que visitou no início deste mês as obras do Sistema de Integração de Bacias do Nordeste com o Rio São Francisco, nos municípios de Cabrobó e Salgueiro, em Pernambuco.

Quando estive lá em visita semelhante no ano passado, tinha ficado impressionado com a grandiosidade deste empreendimento. Após essa nova visita, voltei mais esperançoso por ter visto as águas sendo elevadas na primeira estação de bombeamento, em Cabrobó.

Foi grande a minha alegria de ver aquela torrente de água dirigindo-se para o Ceará, após ter vencido o primeiro obstáculo natural de 36 metros de altura, por meio da elevação por bombas de grande potência, e saber que, mais dia, menos dia, ela chegará ao seu destino, passando por outras duas estações de bombeamento e escoando por túneis, canais e aquedutos.

Em que pese tudo isso, fiquei preocupado com o fato de que essas águas não chegarão aos nossos reservatórios-chave a tempo de compensar o efeito El Niño, caso se confirmem as previsões de mais uma quadra de pouca chuva em 2016. É indispensável assegurar a continuidade e a velocidade de execução das obras de transposição, mas não é realista esperarmos por essa solução para o próximo ano.

Por outro lado, na melhor das hipóteses, o Cinturão das Águas, indispensável sistema de integração das bacias hidrográficas cearenses, disporá de apenas 25% de suas obras concluídas ao fim de 2016, quando se espera que as primeiras águas do São Francisco cheguem ao Castanhão.

Diante da possibilidade de que ocorra um quinto período consecutivo de estiagem no Ceará, e da falta de suprimento alternativo de água no volume necessário para atender a demanda das populações e das atividades agropecuárias e industriais, precisamos intensificar os esforços de conscientização da necessidade de evitar os desperdícios e estimular a racionalização do uso da água.

Esse tema da escassez hídrica, bem como da importância da tomada de conscientização dos cidadãos em relação a fazer a parte que toca a cada um, tem sido recorrente em minhas reflexões, neste e em outros espaços. Soluções simples precisam ser multiplicadas à exaustão, com o uso da criatividade característica da nossa gente quando se convence de que algo grave está por acontecer.

Os cuidados com o uso racional da água não podem mais ser coisa apenas dos períodos de escassez, quando, além de pouca, ela se torna ruim e cara. Poupar água precisa tornar-se um hábito em nosso meio. Isto vale tanto para quem mora no campo como na cidade, pois estamos todos vivendo o mesmo drama.

Temos que evitar que se torne geral a situação, que já ocorre em alguns lugares, de não sair mais água ao abrirmos a torneira. Cabe, portanto, nos engajarmos em um amplo movimento pelo bom uso da pouca água ainda disponível, envolvendo governos, empresas, mídias, escolas e outras entidades da sociedade. Vale até pedir chuva a são Pedro, mas sabendo que ele não abre mão de que façamos a nossa parte.

Roberto Macêdo

roberto@pmacedo.com.br

Empresário

fonte:http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2015/11/25/noticiasjornalopiniao,3539363/aguas-de-2016.shtml

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