Queda de barreiras e perda de terras agricultáveis resultam da erosão pela ausência da mata ciliar

Iguatu. Apesar de nos últimos cinco anos não ter ocorrido cheia significativa do Rio Jaguaribe, neste município, na região Centro-Sul do Ceará, é nítido o avanço da degradação, queda de barreiras e perda significativa de áreas de cultivo agrícola. O fenômeno crescente preocupa os produtores rurais e agrava a crise no campo, a perda de terras produtivas e de capital.

O município de Iguatu é banhado pelo Rio Jaguaribe e, numa extensão de aproximadamente 20Km, formou-se um verdadeiro corredor produtivo, nas localidades de Penha, Cardoso, Itans, Gadelha e Quixoá. A produção de banana destaca-se na região. São minifúndios, áreas divididas entre parentes. Há clara vocação para a atividade agropecuária.

É uma das áreas em que há um padrão de vida superior à média de outras localidades rurais. Casas de alvenaria, com bom acabamento, veículos na garagem e disposição de eletrodomésticos. Entretanto, dois fatores preocupam os produtores rurais: a perda de terras agricultáveis, pela força da erosão, e a queda da produção agrícola da cultura de banana por causa de fortes ventos registrados por dois anos seguidos.

Desprotegidas

No curso do rio, os sinais de destruição da mata ciliar são visíveis. As barreiras estão sem proteção e, a cada cheia, ocorre perda de terreno (áreas de cultivo). Em alguns pontos o curso da água foi modificado. Um exemplo ocorre na propriedade do agricultor Francisco Hélmer de Alcântara, conhecido por “Doda do Maracujá”. “Já perdemos mais de 300 metros linear de terra. Antes se plantava milho, feijão, algodão, mas agora temos só uma pequena roça de milho”, disse. O produtor observa que o problema se agravou a partir da cheia de 1984.

Propriedades vizinhas também sofrem o mesmo processo nas duas margens do rio. “Sem a proteção da mata ciliar, as barreiras vão caindo”, observa o agrônomo Paulo Maciel, da ONG Rio Jaguaribe. O curioso é o surgimento de buracos no meio da terra que indicam que por baixo do solo a erosão já avança.

Providências

Em 2007, Alcântara foi obrigado a interromper a produção de maracujá, fruto que lhe deu o apelido. O cultivo era destaque, os frutos saudáveis em uma área de um hectare. “A terra foi embora, o rio levou o meu pomar”, disse o produtor. Ficaram a saudade e a tristeza. Em 2013, para conter esse tipo de degradação, a Secretaria do Meio Ambiente em Iguatu começou a desenvolver um projeto socioambiental de recomposição da mata ciliar do Rio Jaguaribe, no trecho de mais de 30Km no rio. A ideia era incentivar o plantio de árvores nativas, em parceria com os proprietários de terra que margeiam o rio, mas a ação não avançou.

“A degradação está matando o velho rio”, observa o agricultor Pedro Rodrigues. “Antes as barreiras eram protegidas por matas”. Até a década de 1970, a degradação era contida. Depois, a destruição da mata ciliar, a retirada diária de areia das barreiras, a colocação de lixo e de entulhos contribuíram fortemente para o avanço da destruição das árvores nativas nas margens do manancial.

O agricultor Francisco Eliomar lamenta. Ele viu a mata e a água limpa desaparecerem por causa das agressões. “Aqui era terra firme, tinha mata e havia o conhecido poço comprido que nunca secava”, contou. “A gente tomava banho no inverno e no verão, mas hoje só há terra seca e esgoto que vem da cidade”, relembra saudoso.

Quadro crítico

O engenheiro agrônomo e ambientalista, Paulo Maciel, acompanha há mais de 20 anos essas transformações e lamenta as agressões sofridas pelo Rio Jaguaribe. “O quadro é crítico”, avalia. A Secretaria de Agricultura ainda dispõe de umarizeira, oiticica e bambu para distribuir com os proprietários em um esforço que deveria ser coletivo para salvar o rio.

O cenário atual mostra que é preciso recompor a mata ciliar, proteger o rio, as encostas e beneficiar os produtores rurais. A recuperação é um processo longo, mas que precisa começar de forma efetiva e requer mobilização social e também de educação ambiental.

O Rio Jaguaribe é considerado o coração hídrico do Estado. Nele, estão os dois maiores açudes: o Castanhão e o Orós. É o maior curso de água do Ceará, com 633Km de extensão. No entorno dele estão as principais bacias hidrográficas do Estado.

Debates

Nos últimos 20 anos, houve várias discussões acerca da degradação e destruição da mata ciliar do Rio Jaguaribe, entretanto nenhuma ação concreta foi implantada até agora.

Órgãos públicos e organizações não governamentais (ONG) debateram projetos, mas sem continuidade e eficácia. O primeiro passo pode ser a tomada de consciência. Com isso pode-se evitar, por exemplo, a poluição e o desmatamento das matas ciliares.

Mais informações:

Secretaria do Meio Ambiente

De Iguatu

Telefone: (88) 3566-7925

Escritório Regional do Ibama

Previous post III Reunião com a Comissão de Acompanhamento da Operação 2016.1 dos Vales do Jaguaribe e Banabuiú
Next post Chove em 32 municípios nesta sexta-feira (13); confira previsão para o fim de semana

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *