Retornamos à expectativa, aonde a água ainda não apontou. O leito imaginário, desenhado, embora não encharcado. O lado de cá de nossa estiagem permanente. Tardamento, inquietação, esperar para crer. Na outra ponta, ainda deste mesmo Nordeste de chuva que não chora tanto, a presença confirmada. O rio desce. Verídico, crível, acontecendo, de molhar mãos e pés e sorrisos, e roças e previsões. Mais para lá do semiárido, Paraíba e Pernambuco, o São Francisco é irreversível, contínuo, manso e correnteza. Como em breve se imagina e que será urgente no Ceará.
Em 1817, o então ouvidor do Crato (CE), Antônio de Porbem Barbosa, deu a ideia de transpor o São Francisco para outros sertões. Em 1821, dom João VI, rei de Portugal, ordenou os primeiros estudos de viabilidade
O POVO voltou ao projeto da transposição, nos seus dois caminhos: o Eixo Norte, onde o rio é a espera, a demora, as obras só agora sendo retomadas após uma paralisação de um ano dos serviços; e o Eixo Leste, que escoa, abastece, rega canais e a realidade, além de perenizar o rio Paraíba – antes só vivente nos invernos sertanejos.
O repórter especial Cláudio Ribeiro, o repórter fotográfico Mateus Dantas e o motorista Leandro Costa viajaram 3 mil quilômetros, durante duas semanas de julho passado. Sempre com o céu nublado, apenas respingos. Já não era o tempo mais de chover da região. Mas é o céu que ameniza as perdas no estio e que sombreia e esfria água.
O São Francisco transposto, neste momento ao custo de R$ 11 bilhões, precisa de ajustes. O Governo Federal, frágil politicamente, admite que preferiu acelerar o caminho do rio para depois dar os acabamentos. Fez assim no Eixo Leste, para levar o quanto antes o socorro para Campina Grande, faz o mesmo no Eixo Norte, para salvar Fortaleza da agonia hídrica. Reservas mínimas, há um segundo semestre inteiro de sol quente e evaporação.
FONTE: https://especiais.opovo.com.br/asaguasdefrancisco/