O dia começa às 5 horas da manhã para Agostinho Nobre. Aos 59 anos, o pecuarista, morador da cidade de Banabuiú (a 214 quilômetros de Fortaleza), abre a porta de sua casa e se depara com muita terra ao horizonte. A tristeza bate no peito logo cedo. A terra só existe porque as águas do açude Banabuiú secaram como não se via há 15 anos. A casa de Agostinho está localizada numa (ex-)ilha no açude. Até alguns anos atrás, ao abrir a porta, havia muita água e, com ela, a vida se multiplicava.

O açude Banabuiú é o terceiro maior do Estado, com capacidade de armazenamento de 1,6 bilhão de metros cúbicos de água, segundo a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh). Atualmente, o Banabuiú tem cerca de 0,5% de sua capacidade de armazenamento (atualizado em 10 de março).

“O pessoal diz: ‘Você tá ficando é doido que tá se preocupando com açude, mas a gente se preocupa porque água é a vida, sem água ninguém veve. A gente fica desanimado porque a gente não vê água, as águas estão se acabando, possa ser que Deus bote (água) e a gente fica outra pessoa”, diz Agostinho, abrindo o sorriso.

A paisagem do açude entristece o coração. Seco, o mato cresce onde antes havia peixe, e o gado pasta onde a água deixa saudade. O caminho fica comprido e é preciso andar alguns minutos pela terra, onde um dia os pés não alcançavam, até chegar ao que resta do reservatório.

Andar é o que faz Agostinho quando o dia começa. São quase três quilômetros até a lama do açude, onde ele planta capim para alimentar o gado magro. A lama chega à cintura. Quando volta, alimenta o gado. É do leite dos animais que tira seu sustento e o da esposa, que passa o dia longe de casa para cuidar do neto que perdeu a mãe vítima de câncer no ano passado.

FONTE: http://tribunadoceara.uol.com.br/especiais/mares-secos/#banabuiu

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